quinta-feira, 29 de março de 2007

‘Canto dos Malditos’ além dos hospícios

Autor do livro que deu origem ao filme Bicho de 7 Cabeças aponta falhas no sistema jurídico e pede o fim dos hospícios

Marcelo Bulgarelli

Equipe O DIÁRIO

O sistema jurídico brasileiro não tem profissional capacitado para julgar ações de erros médicos psiquiátricos no país. Não há especialistas nessa área. A afirmação parte do escritor, ator e diretor curitibano Austregésilo Carrano Bueno, 45.

Membro do Movimento da Luta Antimanicomial, Carrano é o autor do livro autobiográfico “Canto dos Malditos” que deu origem ao premiadíssimo filme “Bicho de 7 Cabeças”. Em Maringá, ao participar da Semana Anti-manicomial, ele criticou os hospícios, considerados por ele como um “desserviço social”.

O livro dele, por sinal, deve ser recolhido das livrarias devido a uma ação judicial movida pelos familiares de um médico – Alô Ticolaut Guimarães, já falecido - descontentes com alguns diálogos considerados “injuriosos” citados na publicação.

Carrano pretende protestar contra o recolhimento do livro, queimando dez exemplares em frente ao Tribunal de Justiça do Paraná. “Tive queima de visão, uma pequena fissura craniana, problemas na coluna. Ele arrebentou com minha vida e sou eu que estou injuriando o cara?”, questionou. Esse será mais um capítulo na vida desse ex-paciente contra as instituições psiquiátricas.

“Canto dos Malditos” é a experiência do escritor nos três anos que passou confinado em quatro hospitais psiquiátricos. Carrano teve sete retornos e sofreu 21 aplicações de eletrocho-que. “Você fica preso num quarto, quatro horas antes de ser eletrocutado. A voltagem é de 180 a 460 volts e você pode fraturar fêmur, clavícula, maxilar, além de lesões celebrais”.

INDENIZAÇÃO

Em maio de 98, o escritor moveu a primeira ação indenizatória por erro médico psiquiátrico da história do país contra dois hospitais psiquiátricos e dois médicos psiquiatras. Carrano garante ter sido vítima de erros de diagnósticos que o levaram várias vezes internado em sanatórios, e exige uma indenização de R$ 10 milhões.

A ação de indenização por danos morais, psíquicos e físicos foi contra o Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, Hospital de Neuro Psiquiatria do Paraná – ambos em Curitiba - e os médicos Alexandre Sech e Alô Ticolaut Guimarães.

Em 99, a vítima se tornou ré, graças a um revés jurídico provocado pelas famílias e instituições dos acusados. Foi condenado a pagar R$ 60 mil.

No entender de Carrano, isso mostra a inexistência de juízes e desembargadores com capacidade para julgar questões relativas à saúde mental no Brasil. “Nenhum advogado ou juiz sabe a voltagem de um eletrochoque e nem os seus efeitos. Desconhece as causa de um coquetel de remédios em um paciente. Como podem julgar alguma coisa?”, martelou.

Como se não bastasse, as duas instituições entraram recentemente com uma outra ação exigindo o pagamento de R$ 5 mil de Carrano toda vez que ele citar os nomes dos médicos ou dos hospitais na imprensa. “Com certeza eu serei condenado aqui no Paraná”, afirmou o escritor, “mas vou recorrer ao Supremo (Tribunal de Justiça)”.

TÃO LONGE, TÃO PERTO

A verdade dos hospícios está longe das mentes consideradas sãs. “Visitar uma instituição durante uma ou duas horas, é uma coisa. Mas acordar na madrugada ouvindo gente gritando e correndo, defecando pelos corredores... E você preso no pavilhão, sem poder fazer nada, é outra realidade”.

A situação para os pacientes de saúde mental torna-se mais crítica com a introdução de uma aparelhagem desenvolvida em laboratório americano, avaliada em US$ 30 mil, para aplicação de eletrochoques. Esse aparelho já estaria sendo negociado diretamente com os hospitais psiquiátricos brasileiros.

Os hospícios, segundo o modelo atual, são também considerados como “a galinha dos ovos de ouro”. A saúde mental é a terceira maior despesa do SUS , perdendo apenas para pacientes com problemas cardíacos e respiratórios. O Brasil tem 267 instituições que confinam mais de 70 mil pessoas. “Se gasta em torno de R$ 600 milhões por ano para os donos dos hospícios passearem pela Europa”, denuncia Carrano.

A LOUCURA

Hoje ele é um militante ativo do Movimento da Luta Anti-manicomial, propondo o fim dos hospitais psiquiátricos tradicionais por uma rede de trabalhos substitutivos como centros de atenção psicossocial e serviços sociais terapêuticos. Pelo novo modelo, ficariam internados em hospitais espe-cializados em saúde mental, por um breve período, somente aqueles pacientes que colocam em perigo a própria vida ou a de terceiros. A internação seria em um hospital geral, justamente para não estigmatizar o paciente.

Além da luta antimanicomial, Carrano também questiona o conceito de loucura. Em recente palestra na Universidade Estadual de Londrina (UEL), ele foi surpreendido com a presença de um paciente. Esse foi até à mesa onde estava o palestrante e, calmamente se deitou sobre ela, permanecendo assim durante o debate.

Carrano fingiu que nada havia acontecido. No final da palestra, o paciente também resolveu falar. Contou que certa vez, um psiquiatra lhe havia perguntado se reconheceria quem é louco no meio de uma multidão. A resposta foi simples: todas as pessoas possuem um vaso de flores na cabeça. Os loucos têm um vaso “de-lírios”.



A história de Austregésilo Carrano

Carrano foi internado pela família em 1974, aos 17, depois que seu pai, Israel Ferreira Bueno, achou um cigarro de maconha no bolso de uma jaqueta. O jovem dizia que não era viciado. Apenas fumava nos fins-de-semana.

O próprio pai o levou para o Hospital do Bom Retiro, onde foi atendido pelo médico Alô Ticolaut Guimarães. Era o início de uma série de tratamentos considerados torturantes. Carrano foi submetido a eletrochoques e obrigado a tomar medicamentos, mesmo sem necessidade. Ao sair do hospital, ele ficava trancado no quarto da casa. A família, então, decidiu interná-lo novamente, criando um ciclo crônico de internações. Viveria uma nova tragédia no Hospital de Neuro Psiquiatria, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba.

Atualmente, Canto dos Malditos é um livro adotado na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Nacional de Brasília (UnB) na área de psicopatologia clínica. Boa parte dessa história também está no filme de Laíz Bodanski.

Em Bicho de 7 Cabeças, Carra-no ganhou o nome de Neto - personagem vivido magnificamente por Rodrigo Santoro - e termina quando ele tenta o suicídio. Mas o que realmente aconteceu com Carrano depois desse episódio?

Bem, ele foi para o Rio de Janeiro e mais tarde voltou à Curitiba com a intenção de escrever o livro. Mas ninguém queria editar. Pediam para o autor retirar o nome dos médicos citados. Isso ele não faria.

VÍTIMA

Os originais pararam nas mãos de Leilah Santiago Bufrem, da Editora Universidade Federal do Paraná. O irmão dela também foi vítima do mesmo sistema. Ele havia se suicidado após ter tomado eletrochoques dentro de um hospital psiquiátrico, justamente o Bom Retiro, onde Carrano esteve internado.

O livro, então, foi editado sem modificações ou omissões em março de 1990, sendo recomendado pelo poeta Paulo Leminsky. Em abril do mesmo ano, porém, seria recolhido.

Segundo Carrano, a Editora teria cedido às pressões da família do médico Guimarães.

Durante os sete meses em que o livro pôde ser vendido, Carrano conheceu o Movimento Antimanicomial, coordenado pelo psiquiatra Nacile Daud Júnior. Esse pediu a doação dos fotolitos para a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, na época da administração de Luiza Erundina.

O livro, logo, ganharia uma nova edição destinada à venda indireta. Um desses exemplares caiu nas mãos da cineasta Laíz Bodanski.

Em relação à família, Car-rano guardou mágoas durante um bom tempo, mas depois entendeu que o pai dele também foi vítima do sistema. Afinal, tudo havia ficado escondido entre os muros dos hospícios. “A psiquiatria brasileira oferece à comunidade somente o hospício com alternativa para os que sofrem de doença mental. No meu caso, por exemplo, bastaria uma conversa com uma psicóloga”, analisou. MB

5 comentários:

Sálvio Nienkötter disse...

HOSPITAL HOSPÍCIO OU CLÍNICA MANICÔMIO?


Logo nos primeiros dias de 2007 eu entrava em depressão profunda. Um psiquiatra tratou-me até o início de fevereiro, quando determinou que me internasse no Hospital Psiquiátrico Bom Retiro, aqui em Curitiba; já que continuava e se aprofundava a depressão com agravante de inclinação ao suicídio.
Lá chegado, em acolhedores sorrisos os plantonistas meteram-me na Ala Greca daquele Hospital. Minha esposa temia por mim, insistia que bastava que medicassem, ela me vigiaria em casa mesmo. Mas, os afáveis plantonistas peroraram: “fica tranqüila moça, nesta ala é só particular ou plano de saúde, não atende pelo SUS, fica tranqüila moça”. Entrei.
As instalações prometiam. Corredores largos revestidos do piso ao teto com pastilhas de boa qualidade. Quartos, um pouco tristes, porém, com apenas duas camas individuais em cada um, um banheiro para cada dois quartos et cetera.

O truque era dificultar a Alta:

A alta só era fácil quando o próprio familiar que tivesse internado o doente a pedisse. Porém, invariavelmente, os familiares eram persuadidos a prolongar o internamento. Habilmente falam-lhe da “gravidade” do caso, das melhoras já alcançadas etc. O motivo deste engodo: a receita pecuniária obtida por cada dia de internação.

Assim que entrei recebi um crachá. Destacava-se nele um número “1”. Para obter alta precisaria alcançar o “5”.
A classificação “2” foi fácil conseguir, contudo, para merecê-la, tive de comprometer-me a limpar o chão do refeitório. Deprimido que estava, aceitava tudo.
A classificação “3” obtive pela boa conduta (não há deprimido que não seja dócil e - eu ardia já pela alta). Porém, aí as tarefas se multiplicaram: obriguei-me a limpar o refeitório em 3 das 4 refeições servidas (inonimáveis) e varrer um pátio. Tive ainda de cuidar, em horários alternados com os demais colegas de “3”, da portaria interna que dá para aquele pátio.
Eu era então “guarda” de pacientes que não haviam alcançado o “3”, e que, portanto, deveriam ficar confinados ao corredor. Ser hierarquicamente superior a pacientes com comprometimento psiquiátrico me gelava. A tal Ala Greca deveria atender apenas deprimidos, mas, efetivamente havia de tudo lá.
Observei que quem alcançava o nível “4” ficava tão atarefado que raro era vê-lo parado ou andando. Geralmente estava correndo para poder dar cabo das tarefas exigidas. Eles sabiam que para sair daquele inferno esta era a única maneira. Qualquer vacilo e algum funcionário o rebaixaria o número.





O castigo físico como mantenedor da ordem

Caso um médico, uma psicóloga, uma enfermeira ou uma servente viesse a sentir-se ofendid(o)a com qualquer palavra ou ato do paciente, poderia tocar uma campainha e, ato-contínuo, vinham oito pessoas que formavam um grupo eufemisticamente denominado: “grupo de ajuda” e faziam o que eles chamavam de “contenção”.
A contenção consistia em amarrar o paciente à cama, de maneira que ele não pudesse fazer nenhum, nenhum movimento com o dorso ou membros. Mal comparando, seria o equivalente a uma camisa-de-força associada a uma “calça-de-força” e ambas rijamente atadas à cama. Isto feito, eles o largavam lá, de castigo, por até seis horas ininterruptas (no mínimo eram duas horas). Soube mais tarde que no SUS os pobres diabos ficavam por até 24 horas “contidos”.
Ficava pensando: “Ora, se algum interno entrasse em surto e ameaçasse a própria integridade física e/ou a dos demais em volta dele, este procedimento seria aceitável e até necessário. Mas, ao contrário, só o via sendo aplicado como castigo moral. Geralmente causados por algum palavrão que eventualmente havia escapado dentre os dentes de um infeliz que não percebeu atrás de si uma auxiliar de enfermagem, uma faxineira ou quaisquer que as valham.

Era chegada a minha vez

A minha contenção se deu por outro motivo. Havíamos sido levados a uma sala onde uma psicóloga nos aplicaria a “terapia ocupacional”.
Vendo que a “terapia ocupacional” consistida em colorirmos uma figura que nos era fornecia desenhada, era excessivamente pueril, resolvi virar a página e escrever um poema no verso do tal desenho.
Como naqueles últimos dias eu havia visto colegas “contidos”, escrevi um soneto, onde lamentava este tipo de procedimento. Achei que assim, com fumos de arte, poderia criticar a instituição. O pus no mural destinado aos internos e que só ostentava uns lugares-comuns de cunho evangélico. Empolguei-me, e, uma vez no quarto, escrevi outro texto no qual fazia reclamações dos trabalhos aos quais éramos sujeitos. Li este último em voz alta na refeição seguinte como que concitando os colegas de martírio a reagir ou, pelo menos, refletir: pagaria caro por tanta ingenuidade.
...

Por acaso, não havia muito, eu havia ficado impressionado, nauseado mesmo, ao ler em O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo, essa forte passagem:

“... há muitos, muitos anos um Caré roubou um cavalo dum Amaral. Para castigar o ladrão o estancieiro mandou seus peões costurarem o pobre homem dentro dum couro de vaca molhado e deixarem-no depois sob o olho do sol. O couro secou, encolheu e o Caré morreu asfixiado e esmagado.”

(VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. O Arquipélago, 1961, v. I, p 297).

...
Mal sabia que passaria por “quase” isso:

Oito trogloditas me amarraram à cama, mas, o fizeram com uma tensão absurdamente acima da usual. Ou por ver em mim um perigo, ou por estarem estressados com o fato de que eu não me calasse durante a operação, a exigir uma explicação para o que estava acontecendo, ou ainda porque a “psicóloga” Elizabete fazia sinais com a mão direita “como quem estivesse a parafusar o ar com uma chave de fenda fictícia” incitando-os.
Lá fiquei por três horas amarrado e com a respiração extremamente limitada. Meu peito e meu diafragma estavam inteiramente comprimidos. A única respiração possível era aquela curta e rápida, como a de um cachorro em dia de verão. Lastimava o Caré do Veríssimo. Pensava nas histórias de “enterrados vivos” que ouvira na infância...
Fui internado para que não me suicidasse e estava agora sendo exterminado, lenta e dolorosamente? Repercutiam-me as gargalhadas dos trogloditas que me amarraram, imagens fantásticas se me afiguravam e explodiam sem parar, ouvia os baldios gritos do Caré podendo jurar que ele jamais havia roubado cavalo nenhum, quanto mais daquele canalha do Velho Amaral. Laranja sim, talvez roubasse, mas, cavalo não! Via-me num esquife, depois, voltando um pouco à razão pesava: na última hora estes crápulas me salvam. Não vão querer enfrentar a polícia e a imprensa por minha causa.
Quando estava amarrado havia 15 minutos aproximadamente, veio uma enfermeira e sem proferir palavra tascou-me duas injeções na parte anterior da coxa direita, meio que por cima das ataduras. Negou-se a dizer do que se tratava. Talvez fosse apenas de “efeito moral” para causar a dor de tomar duas injeções praticamente no osso da coxa. Se fosse calmante eu deveria sentir o efeito, mas não senti.
Depois de mais de uma hora entrou no meu quarto um paciente. Arregalou os já grandes olhos azuis e (como se isso fosse possível) gritou sussurrando: “Cara, ... tá loco!? Cê tá roxo pra c...”. Por sorte minha, ele – mesmo arriscando o “4” que ostentava no peito - ousou mexer nas ataduras e diminuir quanto pudesse a pressão. Pouco me valeu tanta coragem. Continuava muito, muito comprimido e ofegante.
Até hoje, quando me vem a imagem daquela psicóloga que ordenou minha contenção, um instinto primitivo emerge de não sei onde. O primeiro texto que escrevi ao voltar pra casa era impublicável, era mais um vômito que um texto. Decidi deixar passar o tempo para amainar o espírito.
Estava naquela condição e nenhum enfermeiro, muito menos um médico ou psicóloga me aparecia. Mas não deslembraram de reduzir o “3” que heroicamente havia alcançado para “1”.
Logo que fui desmaneado, covardemente, sem sequer levantar os olhos a quem me dirigia a palavra fui obedecendo cegamente, aterrorizado pela hipótese de ser novamente “contido”.
Ainda neste dia, ao final da tarde, minha esposa promoveu a “alta a pedido”, mesmo que sob os argumentos e ameaças do costume.

Neste mesmo dia houve uma fuga (o Thiago), enquanto outro paciente (o Casa-Grande) com celular emprestado tentava alta através do 190 da polícia, pobre infeliz.

Quando voltei ao meu psiquiatra entreguei-lhe uma versão anterior deste texto. Ele, muito desconcertado, desculpou-se e sentenciou um tanto solene: isso é um manicômio, acredite, eu não fazia idéia que ainda existisse isso. Mas não quis comprometer-se com a minha idéia de denúncia.

Só a imprensa pode fazer alguma coisa, é urgente. Pensei em processá-los, mas, sem testemunhas e sendo um caso único não vai resolver. Talvez um órgão público, mas, é loteria acreditar em políticos.
“nel mezzo del cammin” Aprendi, sentindo na pele, o óbvio (quase um anexim): se você entra são no hospício: sai louco. Se entra louco: sai com um comprometido psiquiátrico muito maior do que tinha quando entrou. Se você entrar lá por um diagnóstico relativamente comum (depressão) e ficar o período mínimo que eles exigem (trinta dias) vai virar freguês, et factum est.
Os hospitais psiquiátricos, pelo menos este, absolutamente não servem para curar e nem buscam curar. Servem apenas para “proteger a sociedade dos depressivos ou maníacos” mantendo-os presos. Os pacientes lá mais que receber um tratamento cumprem uma pena.
Os textos que pus no mural falavam apenas as verdades claras, expostas a todos. A tal Psicóloga ELIZABETH ROSE KOWALCZUK, no dia seguinte, na “terapia de grupo” me pediu para retirá-los de lá. Falei que tudo bem, os tiraria, mas, qual a resposta para as reivindicações daqueles textos? Ela deu de ombros e virou para outro paciente. Uma hora depois começava o martírio que descrevi acima.






















Os textos:

(Obs.: para melhor compreensão do poemeto é necessário falar que lá é proibido chamar o local de hospício, e o tradicional grupo de oito deve ser chamado de grupo de ajuda).

O poemeto

Amarrado o Thiago,
Amarraram o Osmar.
Aqui é sem afago.
Hospício? se falar...

“Hospital Psiquiátrico”
É politicamente correto.
Grupo de ajuda, não D’oito
Eufemizam direto

No peito tens um número
A custo conquistado,
E nem mesmo no útero

És tão enclausurado.
Nem Calvino nem Lutero,
Só a morte a paz tem dado.



O texto pro mural


1. É repugnante que embora paguemos ao hospício ou a um plano de saúde que o cubra, sejamos aqui coagidos a fazer a faxina do refeitório e pátios, além do trabalho de portaria.
2. É repugnante que tenhamos que tomar banhos frios para aumentar o lucro da instituição.
3. É repugnante que a qualquer momento e ao seu bel prazer, quando algum interno demonstre a mínima exaltação (própria do ser humano e, na maioria das vezes resultada da medicação que foi prescrita pelo próprio hospício) uma auxiliar de enfermagem (se tanto, já que não há diplomas expostos) resolva amarrá-lo, sem nunca fazer antes o menor esforço por acalmá-lo.

Não peço nada a mim, mas espero que a imprensa possa ajudar as vítimas que continuam lá, e as que prosseguem a chegar.



Sálvio Luiz Nienkötter
Rua Visconde do Rio Branco, 1655 Ap. 94.
Centro Curitiba – PR CEP 80420-210
3225-5027 - 8415-1075
Sálvio.luiz@gmail.com

Anônimo disse...

just dropping by to say hello

Jrenato disse...

Olá Sálvio, como estes fatos evoluíram de lá para cá?

Jrenato disse...

Olá Sálvio, como estão estas coisas hoje em dia?

Augusto disse...

Acabei de levar um parente para internamento no Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro e fiquei aflito com o texto. Alguém tem alguma experiência mais recente para compartilhar, ou notícias de como as coisas andam. Agradeço qualquer informação.