Data: 03/02/2004
Autor: Marcelo Bulgarelli/Equipe O DIÁRIO
Fonte: O Diário do Norte do Paraná
A situação dos profissionais do Hospital Universitário (HU) já é do conhecimento do Ministério Público. Ontem à tarde um grupo de médicos protocolou um documento na 14ª Promotoria de Defesa do Consumidor, Garantias Constitucionais, Saúde Pública e Saúde do Trabalhador. A denúncia já está tramitando também no Conselho Regional de Medicina.
Conforme O DIÁRIO antecipou na semana passada, os médicos do HU estão pedindo demissão devido aos baixos salários. Trabalhando com um número aquém do ideal, os médicos do hospital trabalham sobrecarregados. Não há qualquer retaguarda em várias especialidades como cardiologia, neurologia, pneumologia, otorrinolaringologia e oftalmologia entre outras.
Diante desse quadro, os médicos afirmam que estão constantemente colocando em risco a conduta profissional e a sobrevida dos pacientes. Estão recebendo doentes apesar de não existir vagas nas UTIs. Esses pacientes ainda aparecem sem ter passado por uma consulta prévia dos profissionais que os encaminham. "Nesse fim de semana tivemos cinco pacientes aguardando vaga na UTI", observa o ex-diretor do Pronto Socorro do HU, Dorvalino Gusmão de Aguiar.
Os salários são incrivelmente baixos. Um médico do HU recebe R$ 20,00 a hora (R$ 1,2 mil por mês). Um mesmo profissional lotado no Hospital Municipal tem salários de R$ 1,6 mil e só atende pacientes com problemas de baixa complexidade. "No HU de Londrina, paga-se mais de R$ 25 a hora. Porquê essa diferença?", questiona. O médico ressalta que a Universidade Estadual de Maringá (UEM) tem autonomia para poder remanejar seus gastos.
Aliado a todos esses problemas, o HU ainda recebe pacientes com problemas de menor gravidade. Mostra que a questão da saúde pública também deve envolver os municípios da região. "Recentemente recebi um paciente com dor de cabeça. Ele disse que veio pra Maringá, pois o médico da cidade dele só atende no período da manhã". No documento, os clínicos pedem para que esse tipo de paciente só fosse fichado para atendimento médico se encaminhados por colegas das outras unidades.
Os pacientes internados nas enfermarias do Pronto Socorro há mais de 24 horas ficam sem um médico responsável para assumi-los. Faltam professores, técnicos e residentes, principalmente nos fins de semana e feriados. Sobrecarregados, os médicos fazem a visita e ainda atendem aos que chegam no Pronto Socorro. "Já foram deslocados quatro médicos do Pronto Atendimento para auxiliar nessas visitas, mas o resultado não está sendo satisfatório", escreveram.
SEM TOMOGRAFIA Até hoje o HU ainda não possui um aparelho de tomografia computadorizado e outros instrumentos imprescindíveis para o maior hospital público e de referência da região. Faltam plantonistas em alguns setores e médicos concursados e contratados para atender o Pronto Socorro, foram remanejados para outras unidades.
O HU passou a ser referência na região, atendendo Pronto Socorro 24 horas, após um convênio entre a Prefeitura de Maringá e a UEM, ainda na primeira gestão do então prefeito Said Ferreira. O NIS 3, no Alvorada, funcionava como ambulatório do HU. Mais tarde, com a municipalização da Saúde, o ambulatório voltou para a universidade e o Pronto Socorro passou a atender à noite, nos fins de semana e feriados.
No ano passado, o hospital passou a integrar o programa Maringá Saúde após a inauguração da nova ala. O Governo do Estado autorizou a con-tratação temporária de servidores. O Programa Maringá Saúde tem como objetivo é mudar o atendimento no setor público, deixando as emergências para o HU e os casos de menor complexidade no Hospital Municipal, ambos funcionando 24 horas. Mais uma vez os profissionais foram prejudicados.
DENÚNCIAS Nos últimos dias, parentes de pacientes internados no HU ligaram para O DIÁRIO a fim de denunciar a falta de profissionais. Na semana passada, o vice-reitor da UEM, Ângelo Priori, reconheceu a defasagem salarial. Segundo ele, os médicos do HU recebem R$ 1,8 mil, em sistema de plantão. Nos últimos 15 dias, quatro profissionais deixaram a unidade em busca de melhores ofertas salariais. Contudo, ele negou qualquer negligencia no atendimento provocado pela ausência de médicos.
O fato é que o Governo do Estado não autoriza novos concursos públicos. O preenchimento de vagas para a nova ala do HU foi por meio de contratos de regime temporário, renováveis por até um ano. Hoje, o HU trabalha com 138 médicos e 81 enfermeiras.
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