A estaca (diocese) possui cinco capelas na região com um universo de 3 mil fiéis; no mundo, há um novo mórmon a cada 90 segundos
Marcelo Bulgarelli
Equipe O DIÁRIO
Eles se chamam Richard ou Antony. Os nomes e os cabelos louros não escondem a origem norte-americana, mas hoje também é possível encontrar muitos brasileiros entre eles. Faça chuva, faça sol, eles estão presentes nas mais diversas cidades, em locais pobres ou ricos. São os jovens missionários mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
A igreja tem origem norte-americana mas está se tornando mundial devido ao grande crescimento, principalmente na América do Sul. E os números mostram a expansão. A igreja é representada em 189 nações e territórios do mundo, com quase 10 milhões de membros. No Brasil, ela chegou em 1923 e se estabeleceu em Maringá em 1963. Na região, são 3 mil fiéis.
O nome mórmon advém do Livro de Mórmon, volume de escrituras sagradas comparável à Bíblia. É um registro da comunicação de Deus com os antigos habitantes das Américas. “Mas nós também acreditamos na Bíblia”, observa Maurício da Glória Gonzaga, presidente da Estaca (espécie de diocese) de Maringá. Além das estacas, a igreja se divide em alas (paróquias), distritos, ramos e missões.
Gonzaga nasceu e cresceu entre os mórmons. O pai era católico e a mãe presbiteriana quando conheceram a nova igreja, em Santos. Como todo mórmon, aos 19 anos Gonzaga participou do movimento missionário no interior de São Paulo. Essa missão não é obrigatória, mas faz parte da tradição religiosa. Os rapazes, com idades entre 19 e 25 anos, passam dois anos como missionários. As moças, um ano e meio. Em todo o planeta eles somam 66 mil.
Entre os mórmons não há clero remunerado e o serviço eclesiástico é voluntário. Aliás, a igreja presta diversos serviços voluntários. No dia 1º de maio, Dia do Trabalho, por exemplo, cerca de 50 mil membros e amigos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em mais de 100 cidades brasileiras, ensinam técnicas caseiras de armazenamento de alimentos a asilos, creches, escolas, orfanatos e entidades assistenciais, visando diminuir o desperdício dos alimentos estocados.
As ações voluntárias são bastante comuns, apesar do pouco alarde em torno delas. Ciro Ludgero da Silva, diretor de assuntos públicos e membro do Sumo Conselho da Estaca, lembrou dos ataques de 11 de setembro em Nova Iorque quando os mórmons conseguiram rapidamente reunir 10 mil doadores de sangue. “Aos poucos estamos mudando a idéia de que somos fechados”, disse.
PRECONCEITOS
Mas essa histórica discrição colaborou para o surgimento de alguns preconceituosos contra os mórmons. Eles têm como hábito, por exemplo, estocar provisões e água. É uma prática antiga, mas que nada tem a ver com “a espera pelo fim do mundo” conforme alguns leigos apregoam.
Existe, na realidade, a defesa da auto-suficiência, um plano de bem estar. As famílias chegam a estocar alimentos por seis meses, um ou até dois anos. Se o pai ou a pessoa que sustenta a família ficar desempregado, por exemplo, ele terá condições psicológicas para contornar o problema com mais tranqüilidade. Alem disso, com o estoque, os mórmons não poupam esforços em ajudar parentes nas mesmas situações, possibilitando ainda doações para casos de emergência.
Ludgero é um exemplo da economia mórmon. Ele, certa vez, comprou uma caixa d’água de 1,8 mil litros, uma capacidade muita além de suas necessidades. Mas quando acontecem problemas de abastecimento no bairro, ele é o primeiro a ofertar o precioso líquido para os vizinhos. Os mórmons também são educados para só comprar aquilo que realmente está ao seu alcance.
Outros mitos de que a religião permite a poligamia ou que apenas 400 mil pessoas terão direito ao reino dos céus, também não procedem. O mesmo acontece com as acusações de racismo. Atualmente, os negros vêm assumindo muitas coordenações da igreja, principalmente nos Estados Unidos.
A organização se baseia estritamente na obediência das leis de cada país, independente de ideologia ou partido.
ORIGEM
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Latter-Day Saints) é presidida mundialmente por Gordon B. Hinckley, em Salt Lake City, Estados Unidos. Os fiéis explicam que a igreja foi fundada por Jesus Cristo e após sua morte, seguiu sob a liderança dos apóstolos. Com o desaparecimento deles, gradativamente, a mensagem inicial de Cristo foi se perdendo junto com o sacerdócio. Esse período é conhecido como “grande apostadia”.
Somente no século 19, precisamente no dia 6 de abril de 1830, a Igreja de Jesus Cristo, por revelação, foi reorganizada por Joseph Smith Jr. Foi num barracão de madeira, quintal de uma residência de família amiga, na localidade de Finger Lkes, região norte do Estado de Nova Iorque. Os membros explicam que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não é propriedade de um grupo de pessoas, sendo dirigida pelo próprio Jesus Cristo.
A Igreja se tornou mundialmente conhecida a partir dos seis membros originais. Depois dos Estados Unidos, o crescimento maior é na América Latina, principalmente no Brasil e no México. A cada três anos, a Igreja recebe um milhão de novos membros. Resumindo: são 950 a cada dia ou um membro a cada 90 segundos.
Os primeiros missionários americanos chegaram ao Brasil há pouco mais de 60 anos. Foram para Santa Catarina e São Paulo. Uma família que havia aderido à Igreja na Alemanha havia imigrado para o Brasil em 1923. Morava em Ipoméia, pequena localidade no sul de Santa Ca-tarina. Com autorização da Igreja em Salt Lake City, começou o trabalho de evange-lização no Brasil. Hoje, em todo o território nacional, são mais de 743 mil mórmons. “Não somos mais uma igreja americana”, assegura Gonzaga.
A FAMÍLIA
No Brasil são 1.600 capelas e 330 imóveis alocados em todos os estados. As unidades existentes em Maringá são iguais as demais espalhadas pelo mundo. As capelas também seguem um padrão, assim como as mensagens. A família está no topo da pirâmide do evangelho.
Esses locais servem às reuniões regulares de estudos das Sagradas Escrituras e para ministrar as ordenanças do evangelho de Cristo. Em Maringá, todos os domingos, famílias inteiras participam dessas reuniões divididas em salas de aula de acordo com a faixa etária.
Há também grupos exclusivos para maridos e esposas. Após esses encontros, todos se reúnem em um grande salão para falar sobre o que aprenderam. Maringá conta com duas capelas, sendo que a estaca compreende unidades em Sarandi, Campo Mourão e Cianorte.
Um trabalho importante realizado pelos mórmons é o Centro de História da Família, também existente em Maringá. A árvore genealógica do todas as famílias é pesquisada no mundo inteiro. Há centros espalhados pelo globo com o objetivo de estudar as origens familiares, sempre com propósitos religiosos. Na prática, para muitos leigos, também é um instrumento na busca de identificação de algum parente falecido. Isso serve para obtenção da dupla cidadania, por exemplo.
A EXPANSÃO
A expansão mórmon pelo mundo impressiona também pelo império material. Em agosto de 97, os mórmons foram capa da revista Time devido a receita anual da Igreja de quase US$ 6 bilhões. Nos Estados Unidos, ela possui cadeias de rádio, de tevês, livrarias e uma universidade, a Brigham Young, em Utah, além das faculdades Ricks, em Idaho.
Os negócios dos mórmons também integram a maior produção mundial de carne e de amendoim, fazendas, industria de sabão, enlatados, agências de viagens, companhias de seguro e imobiliárias. É a tranqüila união entre o material e o espiritual. Essa receita pode ser creditada à fama dos mórmons de serem incorruptíveis. “Até que enfim uma fama que a gente aceita de bom grado”, brincou Gonzaga, lembrando que a igreja abriga membros de todas as classes sociais.
2002
4 comentários:
ACHEI MUITO INTERESSANTE O ARTIGO SOBRE OS MORMONS, ESTAVA ASSINTINDO
UM DVD HOJE E FILME ME LEVOU A UMA PESQUISA NO GOOGLE, QUE ME LEVOU ATÉ ATÉ SEU BLOG. TAMBÉM TRABALHO NA ÁREA, SOU REPÓRTER FOTOGRÁFICO EM BRASÍLIA, CASO QUEIRA CONHECER UM POUCO DO MEU TRABALHO, SEGUE O ENDEREÇOhttp://terezasobreira.blogspot.com/
ATÉ MAIS E BOM TRABALHO
ABRAÇO
TEREZA SOBREIRA
Parabéns pelo artigo as pessoas precisam conhecer a verdade sobre nós SUD
Parabens pelo blog. Muito interessante mesmo. sabe me dizer se na cidade Crzeiro do Sul,PR. tem algum grupo,ramo ou ala? Agradeço se puder informar-me.Obrigada.
Gostei da matéria. Foi a fonte correta e fez um trabalho excelente.
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